Sentia aqueles dias de Janeiro em Paris como dádiva divina.
Apareceu na sua complicada vida milagrosamente, quando estava demasiado
magoada, com a alma e personalidade destroçadas, vitimas desprotegidas de
abominável violência doméstica, provocada por toxicodependência de álcool,
um dos mais angustiantes pesadelos humanos.
Sobraram-lhe poucos amigos, não entendiam o que a levava a protelar o inevitável
desfecho. Porém, foi entre eles que o conheceu. Sentia que seria para sempre grata,
profundamente reconhecida pelo delicado trato, atenção, humanidade, doçura...
Lentamente, muito lentamente, deixou de assustar-se, de ter medo, de entrar em
pânico. Bem longe ficou um passado de dor e escombros.
Soube depois que a mãe do novo marido tinha passado por situação semelhante.
A maioria dos amigos voltou, contudo estranharam o seu casamento, por ele ser
mais velho cerca de dois decénios. Achavam que se tinha precipitado, ao que ela
sorria radiosamente, sentindo a sua felicidade acrescida.
Eles não sabiam que era tratada como uma princesa, que agradecia diariamente
o milagre de tanto carinho, que voltou a ter novamente a harmonia e equilíbrio de
sua juventude, que vivenciava o amor nobre e absoluto com que sempre sonhara.
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MajoDutra
Pintura de Pete Rumney